Em meio a uma inflação de quase 100%, inúmeros argentinos estão lutando para sobreviver, recorrendo à reciclagem em lixões, fazendo fila para trocar seus pertences em clubes de troca e racionamento nos supermercados por causa da falta de produtos nas prateleiras . Até papel higiênico tem estoque controlado.
“Minha renda não é mais suficiente”, disse Sergio Omar, à Reuters. Ele passa 12 horas por dia vasculhando montanhas de lixo de um aterro sanitário em Lujan, a 65 quilômetros da capital Buenos Aires, em busca de papelão, plástico e metal para vender.
Omar afirmou que um número crescente de trabalhadores informais vão ao depósito de lixo para encontrar qualquer item que possam vender na luta pela sobrevivência.
O país passa por uma prolongada crise financeira e social. Em agosto, a taxa anual de inflação argentina estava em 78,5%, a segunda mais alta entre os países latino-americanos — a inflação mais alta é da Venezuela (114% ao ano). Em Cuba, a taxa é de 32%. No Brasil, a inflação anual, medida no mesmo mês, foi de 8,73%, a 18ª entre os países do bloco.
Os níveis de pobreza foram superiores a 36% no primeiro semestre de 2022 e a pobreza extrema, indivíduos com renda mensal de até oitenta e nove reais, subiu para 8,8%, cerca de 2,6 milhões de pessoas.
Além disso, como mostrou uma pesquisa da Fundação Colsecor publicada em agosto deste ano, quase 80% dos jovens argentinos entre 15 e 24 anos admitiram que podem sair do país. No levantamento, 50% afirmaram que “com certeza sairiam”, enquanto 28% disseram que “provavelmente sairiam”. O número é maior que o contabilizado em 2021, quando 60% dos jovens informaram que poderiam se mudar da Argentina.
Para combater o atual cenário, contudo, o presidente da Argentina, Alberto Fernández, defende o controle de preços nos supermercados, limitar a quantidade de dólares em circulação e cobrar impostos sobre as exportações de produtos agrícolas.