Atualmente, as empresas já nascem com a busca por simplificação de processos e otimização de custos no DNA. Para atingir esses objetivos, nada melhor que ter a tecnologia como aliada. Nesse cenário, a tecnologia low-code (ou plataformas de aplicativo com poucos códigos) tem ganhado cada vez mais espaço no meio corporativo — e a tendência é que esse movimento avance.
Até 2024, cerca de 65% dos softwares no mundo serão desenvolvidos a partir do low-code, segundo a consultoria Gartner. A ferramente facilita o desenvolvimento de aplicativos por pessoas que não são da área técnica.
Atualmente, um modelo de desenvolvimento tradicional é 100% dependente de programadores profissionais, que codificam todo o software utilizando linguagens de programação, ressalta Rafael Bortolini, head de gestão de produtos da Zeev.
“As ferramentas do low-code são extremamente visuais, com componentes prontos que podem ser conectados, como se fossem um ‘lego’ ou um quebra-cabeças”, explica. “Arrastando e soltando esses componentes, o desenvolvedor pode criando um aplicativo completo”.
“O low-code também possibilita que os citizen developer (pessoas que não trabalham com TI e são responsáveis pelo desenvolvimento de softwares) criem sistemas sem codificar, contando com a ajuda de profissionais apenas em situações específicas”, diz Bortolini.
Até o próximo ano, a Gartner apontou que o número de citizen developer nas grandes empresas será quatro vezes maior que o de desenvolvedores profissionais.
E, segundo a Forrester Research, companhia especializada em análises, o low-code possibilita que programadores acelerem sua produção em 10 vezes.
De acordo com um relatório da Gartner, o mercado de low-code movimentou cerca de US$ 13,8 bilhões (R$ 72,67 bilhões) em 2021 no mundo, uma alta de 22,6% em relação a 2020 (US$ 11,2 bilhões, ou R$ 58,98 bilhões).
O Banco Bmg é uma das companhias que teve sua produção impactada pelo low-code. A instituição financeira utiliza a tecnologia no programa chamado “Bee – Bmg Excelência Empresarial”.
“Onde identificamos, mapeamos e otimizamos diversos processos”, afirma Gustavo Oliveira, gerente de qualidade, projetos e processos do Banco Bmg. “Uma vez mapeados, analisamos os processos passíveis de aplicação da solução e realizamos a automação [via low-code]”.
Anteriormente, os processos do banco não possuíam estrutura definida e padrão na execução, o que acarretava falta de visibilidade de diversas atividades. Dessa forma, os funcionários precisavam realizar retrabalhos, devido à descentralização das informações.
Com o low-code, o SLA (service level agreement, nível de entrega de serviços) foi otimizado em 80%, e o retorno do investimento foi sete vezes maior.
A Microsoft, por outro lado, oferece plataformas de low-code para clientes. Marcondes Farias, diretor de produto de Dynamics 365 e Power Platform da Microsoft Brasil, diz que a companhia dá subsídios para que “qualquer pessoa crie suas próprias aplicações de forma simples e que isso não esteja apenas concentrado na área de TI”.
“Com o Power Platform (plataforma de low-code da Microsoft), é possível criar aplicativos, com uso de ferramentas de dados e inteligência artificial”.
Mas não são apenas as grandes companhias que aderiram à ferramenta. Mariana de Melo, gerente da gerência operacional da Bild, empresa de desenvolvimento imobiliário, conta que utiliza o low-code para automatizar os atendimentos nas atividades de back-office (departamentos que mantêm nenhum ou pouco contato com os clientes).
“Com a tecnologia, conseguimos criar painéis para acompanhar operações e metas”, diz Mariana. “Geramos um melhor grau de eficiência (custo/volumetria) da nossa operação”.
A companhia investiu cerca de R$ 135 mil para usar a tecnologia, em 2019, e já foram desenvolvidos 221 processos via low-code, em mais de 22 áreas de negócios da cempresa.
Problemas
Apesar das vantagens, o head de gestão de produtos da Zeev afirma que existe uma grande preocupação relativa à governança de aplicações low-code.
“Com o número de aplicativos crescendo exponencialmente e cada vez mais pessoas criando sistemas, a dúvida é: como manter padrões de qualidade, performance e segurança de tudo que está sendo feito”.
Ele afirma também que “é preciso conscientizar os desenvolvedores profissionais e as equipes de TI em geral que o movimento low-code não é uma competição, e sim uma cooperação”.
Em alguns fóruns, existe o conceito de que a democratização do acesso a esse tipo de tecnologia poderia representar um risco aos profissionais da área.
“Mas, na verdade, a ideia é que os desenvolvedores profissionais e as equipes de TI fiquem cada vez mais liberadas para trabalhar em grandes projetos inovadores e complexos, que trazem um diferencial para a empresa”.